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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Prevenção na adolescência: corpo e decisão


Dois pontos são de fundamental importância durante a adolescência: o corpo e suas mudanças e a capacidade de tomar as próprias decisões. A questão do corpo na adolescência é de suma importância quando se pensa em prevenção de gravidez e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) porque é partir do corpo que o adolescente se percebe crescendo e mudando. As mudanças psicológicas típicas desta fase, tal como a necessidade de maior independência e da necessidade de sentir-se parte e aceito por um grupo, apóiam-se nas mudanças físicas. Nesta fase há a descoberta do corpo que se torna adulto e o interesse pela descoberta do próprio corpo e do corpo do outro é inevitável. Grande parte da adolescência é gasta em tornar o próprio corpo desejável, ou seja, é quando começamos a nos preocupar com os aspectos do nosso corpo sexualmente importante para os outros. Descobrir-se desejável equivale a sentir-se parte do mundo e a ter, no futuro que pela primeira vez se abre, a descoberta de não passar a vida sozinho ( no sentido de desfrutar da intimidade que só uma relação conjugal pode oferecer). Esta necessidade de, sobretudo, aceitar a si próprio em suas qualidades e defeitos e aceitar, com isso, que ás vezes o outro pode nos aceitar ou rejeitar é o centro da decisão de prevenir-se sexualmente. Agir impulsivamente está em total acordo com as mudanças da adolescência, mas ao mostrar e esclarecer ao adolescente suas próprias questões, ajudando-o a reconhecer-se damos a oportunidade da decisão consciente. É importante destacar que a necessidade de ser capaz de tomar as próprias decisões é fundamental nesta fase e que valorizar esta capacidade pode tornar o aolescente mais receptivo às informações e, também, mais capaz de decidir prevenir-se, pois este deve sentir que a decisão é dele e não algo que lhe foi imposto. Reconhecer a importância do corpo e da independência do adolescente em relação a ele é a chave para começar um trabalho preventivo, seja em maior escala ou mesmo com os próprios filhos.


Gabriela P. Daltro
Psicóloga CRP 06/86668
gabipdaltro@hotmail.com
Auto-engano

Durante o processo de desenvolvimento aprendemos a evitar situações dolorosas e valorizar as situações prazerosas. Neste sentido evitamos colocar o dedo na tomada, choramos ao cair, nos comportamos para receber um doce ou o carinho de alguém que se ama. Contudo, como parte deste aprendizado e também como parte dos mecanismos de defesa desenvolvidos ao longo da evolução humana tendemos a evitar além da dor física a “dor psicológica”. Assim, evitar situações emocionais desagradáveis ou dolorosas faz parte do humano. Um destes mecanismos de defesa é o auto-engano: a pessoa é incapaz de se responsabilizar por seus atos, de reconhecer o papel que desempenha nos fatos que lhe acontecem e costuma colocar a culpa de acontecimentos desagradáveis sempre no outro ou no azar. Deste modo ela evita lidar com seus medos, insatisfações e falhas pessoais que podem ser muito difíceis de reconhecer e podem representar sofrimento psicológico. Durante o trabalho de terapia o indivíduo é levado a compreender o lugar que ocupa em sua vida e o modo pelo qual produz o mundo a sua volta. Assim, apesar do auto-engano ajudar na preservação da identidade do indivíduo, quando passa a prejudicar sua autonomia torna-se danoso. Estar disposto e se autorizar a analisar-se é fundamental para assumir as rédeas da própria vida de modo fortalecido.

Gabriela P. Daltro
Psicóloga CRP 06/86668
gabipdaltro@hotmail.com
Situações inacabadas

Durante o processo de terapia, quando a pessoa passa a rever suas emoções, sentimentos e reações perante o mundo que a cerca, em geral se depara com as situações inacabadas. Situações inacabadas são conflitos que permanecem ao longo do tempo sem serem elaborados e, portanto, estão sempre sendo revistos e surgindo nas mais diversas situações de vida do indivíduo. Uma situação pendente pode ser a necessidade constante de aprovação, por exemplo, ou a dificuldade em se despedir dos pais já falecidos. Em geral a necessidade que gerou a situação retorna inúmeras vezes à consciência em uma tentativa de ser resolvida. Quando falamos em resolver uma situação inacabada estamos falando em elaborar emocionalmente acontecimentos e necessidades internas. Quando um conflito pode encontrar seu desfecho, a experiência enriquece o indivíduo e o libera para experimentar novas situações e, desta forma, viver de modo mais pleno o presente. Contudo, quando as situações não são fechadas, permanecem cristalizando e reforçando atitudes de distanciamento da realidade (em geral lançam a pessoa para o passado ou o futuro) e impedem o contato total com o mundo e consigo mesmo. Durante o processo terapêutico o terapeuta vai ajudando o cliente a reconhecer suas situações inacabadas e oferece um campo seguro para que a pessoa possa tenha coragem (existencial) de libertar-se das amarras que construiu para si-própria.

Gabriela P. Daltro
Psicóloga CRP 06/86668
gabipdaltro@hotmail.com